terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Tokyo.





Nunca perdoarei o misticismo de Tokyo. Piscam essas marquises alucinantes, lancinantes, ambulantes, alienantes, tantas luzes! Aleluia! O sinal abriu! Esse misticismo que se descasca, desfolha e desfaz em iluminadores pontilhados ou botões mortos de rosa. Nem nos túneis assombrados do metrô meus olhos descansam! Procurando refúgio, minha fotofobia ainda esbarra em spots pendurados modestamente aqui e alí, oferecendo compensações. Ao menos, não é Paris. Senão, minha fuga elétrica seria rançosa, matando gambás de desgosto pelo caminho. Nem adianta jogar perfume francês no ar...
Mas antes fosse a nossa Dublin. A nossa Howth da qual não te dissocio. Lá a dor seria suportável, longe dos olhos de outdoor Maybelline e dessa fala cacófona, estridente que te faz tão urbana, meu oposto. Meu complemento. Mas Dublin ainda me espera um tempo, porque te refugiastes nela. Trocamos de lugar. Enquanto fazes voto de silêncio, tento um afogamento nessa luz que me fez desviar o olhar e decretar nosso fim. Maldita Tokyo, nada mística vista do teu vôo para nossa casa.

Marcela Anders Gorga

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