terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Amsterdam




Tempo bom. Chove um pouco menos na cidade em que as ruas transbordam. O cheiro vem do suor dele. Selvagem enquanto anda até a porta e as luzes. Ela não está na vitrine. Não esta noite, embora seja destaque.
O castanho vidrado varre a loja, sonda as luzes inebriadas pela fumaça doce. Doce Amsterdam!
Ela dança. Naquele olhar, a selvageria que ele esperava encontrar. Naqueles cachos queimando o olhar de tão ruivos. O som deles grudando nela é um tambor frenético. O ritmo em que ela o ignora é familiar, parte do jogo, da magia que os possui.
Ele dá passos firmes, previsíeis, ecoando no sorriso feiticeiro dela. A mão em seus quadris vibra anseios ocultos nadando para a superfície.
Anseios respirando pelo tempo que têm. As mãos vibrando cordas diferentes, curvas agudas, músculos graves. A chuva se aquieta para ouvir o trovão. O cheiro dela é igualmente selvagem, enlouquecido, criado na lua cheia, fazendo dele um lobo faminto por cada fresta e segredo dela até cantarem juntos e o tambor parar de ressoar no sangue.
Ela parece cera de vela enquanto ele se veste.
Ele sabe que ela já está pronta para o próximo. Que se faz de derretida.
Ela sabe que ele não vai conseguir ficar de pé. E que é lânguida que ele a pinta. E esculpe...
"Goodbye, Layla."
Ele sabe que tem de ser duro. Que não deve voltar.
"See you tomorrow, Aidan."
Ela sabe que ele vai voltar. Sempre volta.
Ela sabe que seu nome não é Aidan.
Ele sabe que ela não é Layla. Mas que o põe de joelhos.
E isso basta. Para ambos.

Publicado pela primeira vez na comunidade "Conte Como Eu Conto", no orkut. É uma ótima comunidade! Confiram!

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