terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Negativo.




Eu, negativo teu, cacho, córnea, curvas mesmas enantiomorfas na superexposição do delírio. Era febre ou o sol na lente deu à luz tua imagem? Tua imagem minha, um gosto doce no fundo da boca sopranando êxtase no vale entre os teus lábios. O instante primitivo espraiado no entardecer dos nossos sentires confusos. Pele contra pele na seqüência muda derretendo o concreto que soterra céu e sonho. Suspiro sem som que não vem do mar se dobrando na areia, mas do patchwork dos nossos corpos. Espuma esfumaça olhos marejados, sombreados pelas nuances gloriosas da paixão, desfoca a entrega e anoitece os contornos gelatinosos da realidade. Gelatina de prata projetando fantasias para minha alma vendo em vermelho. Desvario de câmara escura. Expostos, desejos em negativo revelam apenas a solidão de um único corpo em preto e branco. Não nos impusemos, nem expusemos. Siamo in due. Superexposta, apago minha existência para guardar apenas fotos tuas.
Marcela Gorga

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