domingo, 3 de abril de 2011

Pastoral



Coelhos são criaturas fascinantes. Curiosos, ágeis, vivazes... Assim que pus os olhos em você, minha Isolda, a associação foi imediata. Lobos reconhecem rapidamente a presa que mais lhes agrada... Doce, pura, assustada e tão ávida por ser devorada. Fiz o que bem entendi e você o permitiu. A minha solidão era o atrativo e eu bem o sabia. O lobo desgarrado da matilha insana dos O'Hagan é mais do que solitário. É faminto. Me alimentei de você, consumi cada suspiro e cada arrepio da sua bela pele aveludada. E é estranho chegar a essa altura da vida e não se sentir saciado, não desejar outro tipo de carne senão a deste belo espécime adormecido na minha cama. E saber que, por mais que eu tenha brincado com a comida, ela sempre retorna, com os olhinhos assustados...

Não te culpo, a ghrá. O tormento infligido por um membro do bando te anestesiou para os dentes que viriam a te morder e morder por você. Um coelho se apaixona por um lobo porque este, melhor do que ninguém, reconhece outro coelho assustado usando pele de lobo. E sabe sacodí-lo pra fora do disfarce.

Não, minha doce Isolda, nós não pertencemos a matilhas ou bandos. A dor nos moldou um para o outro, mas não para comunidades. Somos espécimes raros. Descansa, meu amor, e embala nosso filho no seu ventre. Nada mais vai te incomodar. Nem lobos, nem coelhos.

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